Na última terça-feira, dia 29, o Brasil parou — não só por causa do calor absurdo que anda fazendo no Nordeste ou da correria política em Brasília, mas por um motivo que ninguém gostaria de ver estampado nos jornais: a coragem de Juliana Garcia. Com só 23 anos, ela resolveu falar. Quebrou o silêncio. E quando a voz dela saiu, o país inteiro escutou.
Juliana foi brutalmente agredida dentro de um elevador, em Natal (RN), por ninguém menos que seu ex-namorado. Sim, alguém em quem ela confiava. Foram 61 socos. Sessenta e um. E tudo isso foi registrado por uma câmera de segurança que não deixa dúvidas: foi um ataque covarde, cruel, de causar enjôo em qualquer um que tenha o mínimo de empatia.
O vídeo circulou pelas redes como pólvora, e não demorou pra indignação coletiva explodir. Mas mais que a revolta, veio também um movimento de apoio. Gente de todo canto do país começou a mandar mensagens, a denunciar, a acolher. E nessa onda, Juliana apareceu. Não pra se fazer de vítima. Mas pra mostrar que, mesmo dilacerada, ela tá viva. E quer seguir.
“Estou viva. Mas ainda tentando entender como cheguei até aqui.” Esse foi o início do desabafo que ela publicou em suas redes sociais. E quem leu, sentiu. Doeu junto. As palavras dela não vinham com raiva. Vinham com um misto de dor e gratidão. Ela falou da escuridão. Mas também da luz. A luz que veio de amigas, familiares, e até de completos estranhos que decidiram abraçá-la, mesmo à distância.
Segundo ela, agora é hora de cuidar de si. De respirar. De tentar, aos poucos, reconstruir não só o rosto — ainda cheio de hematomas — mas principalmente o que não aparece nas imagens: o psicológico. E é por isso que as amigas dela organizaram uma vaquinha online. Uma campanha pra ajudar nos tratamentos, nos remédios, na terapia. A iniciativa, que começou entre amigas, já virou um símbolo de força e solidariedade. Um “basta” coletivo à violência que insiste em calar mulheres todos os dias.
A resposta das autoridades também começou a se desenhar. A Polícia Civil do RN, que inicialmente tratava o caso como lesão corporal, agora investiga Igor Cabral, de 26 anos, por tentativa de feminicídio. A delegada Ana Carolina Mota foi clara: “Não há dúvidas de que ele quis matar.” E, sendo bem direto, quem assiste ao vídeo não precisa nem ser perito pra entender isso.
O Ministério Público também entrou no caso, e juristas afirmam que, com provas tão claras, Igor deve enfrentar uma pena pesada. E que sirva, pelo menos, como um sinal de que a justiça pode — e deve — proteger quem sobreviveu ao pior.
Mas o caso de Juliana não é isolado. Longe disso. Segundo o último levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher é vítima de feminicídio a cada seis horas no Brasil. E em mais de 80% dos casos, o agressor é alguém próximo. Ex, marido, namorado. Isso diz muito sobre o tipo de sociedade em que a gente vive — onde o machismo ainda mata, todos os dias.
Juliana teve sorte de sobreviver. Mas não precisava ter passado por isso. Nenhuma mulher precisa. E enquanto os números continuarem subindo, a luta tem que continuar. Com coragem, como a dela. E com apoio, como o nosso.