Nos corredores meio apagados do Anexo 3 da Câmara dos Deputados, onde o ar-condicionado sempre parece mais gelado do que devia, Jair Bolsonaro, ainda deputado federal na época, soltava a frase que parecia brincadeira, mas tinha cara de promessa: “Vou casar com você”. Era pra Michelle de Paula, então secretária parlamentar. Ninguém sabia se ele falava sério ou só jogava charme. Mas entre um café no gabinete e umas conversas trocadas fora do expediente, o tal flerte virou namoro — e o namoro não demorou pra virar casamento.
Foram seis meses só até o “sim”. E agora, duas décadas depois, Michelle Bolsonaro reaparece, não mais como a ex-primeira-dama elegante que aparecia discretamente ao lado do marido, mas como uma peça chave num tabuleiro político que tá mais embolado do que nunca. Em tempos onde o bolsonarismo parece andar entre trancos e barrancos, Michelle surge como a carta que Jair guarda na manga.
Com o ex-presidente proibido de sair de Brasília — decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que parece não largar do pé de Bolsonaro —, coube à esposa ocupar o vácuo deixado. E olha… ela não titubeou. Em vez de ficar à sombra, Michelle tem rodado o país, dado discursos inflamados, apertado mãos de pastores e, segundo aliados, articulado nos bastidores com uma desenvoltura que surpreendeu até os mais céticos dentro do próprio PL.
Na última sexta-feira (25), enquanto Bolsonaro se mantinha recluso, evitando os holofotes e aguardando os próximos capítulos de sua novela judicial, Michelle estava em plena atividade na Paraíba. Foi recebida com festa por apoiadores, uma turma grande de evangélicos e lideranças locais do Partido Liberal. No meio do povo, ela sorriu, falou, tirou foto, rezou — fez o pacote completo que emociona a base bolsonarista.
Quem acompanhou tudo de perto foi Marcelo Queiroga, aquele mesmo que comandou o Ministério da Saúde na pandemia e hoje é presidente estadual do PL por lá. Ele resumiu o sentimento do grupo com uma frase que tem circulado nos bastidores de Brasília desde então:
— Todos nós, sob a liderança do presidente Bolsonaro, que está parcialmente impedido de exercer sua liderança em toda sua plenitude, iremos nos guiar por Michelle Bolsonaro, que é uma figura excepcional.
É claro que o movimento não é por acaso. A entrada mais forte de Michelle no cenário político tem dedo do clã Bolsonaro, sim, e pode ser parte de uma estratégia maior pra 2026. Nos bastidores, há quem diga que ela seria o “plano B” pra candidatura, caso Jair fique inelegível mesmo — o que, convenhamos, não seria nenhum absurdo, dada a quantidade de processos e investigações no entorno dele.
Michelle também tem o trunfo de falar diretamente com o eleitorado evangélico, que continua sendo uma das bases mais fiéis do bolsonarismo. E diferente de Jair, que costuma ser mais explosivo, ela adota um tom mais suave, mais conciliador, o que pode atrair até quem não morria de amores pelo ex-presidente.
Por outro lado, a ascensão de Michelle também levanta dúvidas. Será que ela quer mesmo entrar de cabeça na política ou tá só cumprindo um papel temporário? Entre aliados próximos, tem quem diga que ela prefere um perfil mais discreto. Mas, ao que tudo indica, ela tem topado o desafio — pelo menos por agora.
Em um país que continua dividido, e com as eleições municipais chegando, o nome Michelle Bolsonaro já começa a circular com mais força. E se depender do cenário atual, ela ainda vai dar muito o que falar.