Foi esse o pedido inusitado que família de homem que agrediu namorada em elevador fez a justiça: “Deixem ele”

A nota divulgada pela família do ex-jogador Igor Cabral soa mais como um grito de socorro do que um simples comunicado. Num tom que mistura desabafo, dor e apelo, os parentes do agressor tentam deixar claro que não têm qualquer ligação com o crime cometido, mas estão sendo duramente punidos por ele. “Reforçamos que os familiares não têm responsabilidade sobre os atos cometidos. Somos cidadãos comuns […]”, diz o trecho inicial, que também denuncia o que chamam de “linchamento social”.

Segundo o documento, endereços da família foram expostos nas redes sociais. Teve até casa pichada com ameaça explícita. O caso, que explodiu de vez após vídeos do ataque circularem nas plataformas digitais, causou uma onda de revolta. E não era pra menos. Igor aparece nas imagens agredindo a namorada com brutalidade — são mais de 60 socos, de acordo com testemunhas. O ataque ocorreu num sábado, e a vítima, até agora, segue em processo de recuperação. Já ele está preso, aguardando a Justiça decidir os próximos passos.

O problema é que, junto com a indignação coletiva (que é compreensível), vieram também atitudes extremas. Familiares de Igor relatam estar sendo perseguidos. Tem parente que não consegue mais ir ao trabalho sem ouvir piadinhas ou receber olhares atravessados. Gente que nem viu o que aconteceu, mas já sente no corpo o peso de uma culpa que não é sua.

“Estamos sendo ameaçados. Não conseguimos mais sair às ruas com tranquilidade. Nossa rotina virou um caos”, diz um dos trechos mais fortes da nota.

E tem mais: além do medo e da vergonha, há prejuízos concretos. Segundo o comunicado, locais de trabalho estão sendo afetados. Funcionários, mesmo sem envolvimento nenhum com o agressor, estão sendo apontados, constrangidos, julgados. “Pessoas estão sendo punidas por algo que não fizeram”, destaca outro trecho.

Apesar disso tudo, a família afirma que entende o tamanho da indignação. “Também estamos consternados com o que aconteceu. Lamentamos profundamente. Mas pedimos que possamos viver em paz”, escreveram.

A situação levanta um ponto delicado, e que precisa ser debatido com mais seriedade: até onde vai a responsabilidade de familiares quando alguém comete um crime? É razoável exigir que irmãos, pais, primos ou colegas paguem junto por aquilo que não fizeram? A linha entre revolta e injustiça, às vezes, é muito fina.

No meio desse furacão, o processo legal segue. Igor vai responder por tentativa de feminicídio, lesão corporal grave e outras acusações. A sociedade quer — e com razão — uma resposta firme. O caso escancarou mais uma vez a urgência de combater a violência contra a mulher, algo que, infelizmente, ainda é rotina no Brasil. Só nos últimos meses, casos parecidos têm ganhado destaque, mostrando que a ferida é antiga e ainda longe de cicatrizar.

Enquanto isso, três lados tentam seguir em frente: a vítima tenta se reerguer, a Justiça tenta agir, e a família do agressor… bom, essa só quer um pouco de dignidade. Não estão pedindo perdão. Só querem respirar.

Porque mesmo no meio da tragédia, tem gente que sofre calada. E nem sempre quem está do lado do agressor escolheu estar ali.