A chef e apresentadora Bela Gil usou suas redes sociais pra rebater umas declarações no mínimo bizarras do padre Danilo César, lá da cidadezinha de Areial, no Agreste da Paraíba. O religioso, durante uma missa que foi transmitida ao vivo no último domingo (27), decidiu fazer comentários polêmicos envolvendo a morte de Preta Gil, que faleceu recentemente em decorrência de um câncer colorretal. Só que, em vez de um discurso respeitoso, ele resolveu ironizar a fé da família Gil e associar a tragédia à ligação deles com os orixás.
Bela não ficou calada. Postou um desabafo no Instagram: “É cada absurdo que a gente precisa ouvir… Seu padre desrespeitoso”, escreveu ela, compartilhando também uma publicação do historiador Leandro Karnal, que, por sua vez, já tinha criticado a postura do padre.
Durante a tal missa, o padre Danilo resolveu fazer piada com uma situação que claramente não tem graça nenhuma. “Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás. Cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”, disparou ele, com tom de sarcasmo que beirava o desrespeito puro e simples.
O comentário gerou revolta nas redes. Muita gente ficou indignada com o que considerou uma fala carregada de intolerância religiosa. A reação foi tanta que a Polícia Civil da Paraíba abriu um inquérito pra investigar o caso como possível crime de racismo religioso — que, aliás, é previsto em lei e pode dar cadeia, sim.
Quem está à frente da investigação é a delegada Socorro Silva. Segundo ela, algumas testemunhas já foram ouvidas e outras ainda vão ser chamadas pra depor, incluindo o próprio padre Danilo. A denúncia partiu de uma associação que representa religiões de matriz afro-indígena, que classificou a fala do padre como ofensiva e preconceituosa.

Em meio à polêmica, a Diocese de Campina Grande soltou uma nota oficial tentando colocar panos quentes. Segundo o comunicado, o sacerdote vai prestar “todos os esclarecimentos necessários” por meio da assessoria jurídica dele. A diocese também reforçou o compromisso com os direitos fundamentais, como a liberdade de crença e o respeito à dignidade de todas as pessoas — o que, convenhamos, parece meio contraditório diante da situação.
Vale lembrar que o Brasil é um país de diversidade religiosa imensa. Do catolicismo ao candomblé, passando pelo espiritismo, pelo protestantismo e outras expressões de fé, todo mundo tem o direito de acreditar no que quiser — ou até de não acreditar em nada. O problema começa quando essa liberdade vira motivo de ataque, chacota ou julgamento. Ainda mais vindo de alguém que deveria, em teoria, pregar o amor, a empatia e o respeito ao próximo.
Bela Gil, além de filha de Gilberto Gil e prima de Preta, é uma figura pública que costuma se posicionar sobre temas sociais, principalmente ligados à causa racial, à saúde e à espiritualidade. A reação dela foi só um reflexo da dor que muita gente sente quando vê sua fé sendo ridicularizada em praça pública — e, nesse caso, ainda por alguém que representa uma instituição religiosa.
No fim das contas, esse episódio é mais um daqueles que escancaram o quanto a intolerância ainda é um problema sério no Brasil. E pior: muitas vezes ela vem disfarçada de opinião, de doutrina ou de “liberdade de expressão”. Mas quando a expressão de um fere a existência do outro, talvez seja hora de rever o que realmente significa viver em sociedade.